Os edifícios ao redor do mundo estão ficando mais altos. Desde o ano 2000, a construção global de arranha-céus aumentou em 402%. Cidades como Dubai abrigam quase 1000 arranha-céus, e o vibrante mercado imobiliário de luxo de Nova York não mostrou sinais de desaceleração, com mais adições de arranha-céus a serem acrescentadas à sua já imponente linha do horizonte. Isto é bom — os arranha-céus criam um espaço muito necessário em cidades já densas e podem reduzir a expansão urbana nos centros das cidades, permitindo uma melhor preservação das áreas naturais.
A maioria dos arranha-céus de hoje abriga uma diversidade de usos, muitas vezes mesclando habitação, escritórios e varejo em uma única estrutura. Entretanto, muitos acabam negligenciando sua contribuição ao nível do solo, tornando-se monólitos imponentes que fomentam o isolamento ao invés da comunidade. À medida que cidades como Portland e Paris procuram se tornar mais amigáveis ao pedestre, vale a pena analisar atentamente. Aproxime o zoom para verificar os elementos arquitetônicos que tornam uma construção mais amigável para o pedestre, e afaste o zoom para ver como esses elementos podem ter uma relação simbiótica com o meio urbano.
A maioria dessas intervenções ao nível do solo são indiscutivelmente arcadas e com pórticos. Encontradas em inúmeras cidades do mundo, estes elementos arquitetônicos funcionam tanto como abrigo, quanto como um espaço transitório útil entre o exterior e o interior de um edifício. Há grandes exemplos destes elementos, como a Piazza San Marco em Veneza, mas passarelas cobertas em menor escala têm um efeito transformador semelhante no nível do solo. Nos souks da medina de Tunis, na Tunísia, as passarelas cobertas permitem aos comerciantes mostrar suas mercadorias de forma acessível ao visitante casual.
Outro elemento arquitetônico que denota de forma semelhante uma relação com o nível da rua é a fachada de vidro. As áreas de Farringdon e Clerkenwell em Londres abrigam inúmeras lojas de design — cada uma delas utiliza as amplas janelas para mostrar os produtos oferecidos. Neste caso um "zoom out" é necessário, já que um edifício de uso misto simplesmente com uma fachada de vidro transparente no nível do solo por si só não é suficiente. A presença de uma calçada confortável o suficiente é o que faria os pedestres quererem se reunir confortavelmente na beira da rua.
Com estes dois elementos arquitetônicos — apenas um subconjunto das diversas estratégias que tornam um edifício de uso misto mais acessível ao nível do solo, a realidade simples é que essas construções, embora bem projetadas, fazem parte da vida urbana. A visão de Jane Jacobs de que é o processo dinâmico de transformação urbana que dá origem a usos complementares do solo é pertinente. A adaptação de um edifício de uso misto ao seu entorno imediato é o que torna parte de um bairro bem-sucedido e diversificado.
A definição de bordas "duras" e "suaves" de Jan Gehl deve ser lembrada conforme as tentativas são feitas em projetos mais adequados à escala humana. Bordas "duras" são categorizadas como paredes em branco que pouco estimulam o interesse do pedestre. Bordas 'suaves', por outro lado, são fachadas que têm muitas coisas acontecendo — sejam portas, intervenções temporárias como um vendedor de frutas colocando seus produtos na rua, ou nichos que convidam as pessoas a descansar ou ter conversas umas com as outras.
As discussões sobre a implantação bem sucedida da tipologia de uso misto no nível térreo têm se concentrado frequentemente nas cidades europeias medievais. O fator limitante desta conversa é que os bairros históricos em muitas dessas cidades tiveram a oportunidade de evoluir continuamente conforme as necessidades de seus residentes por centenas de anos. Estruturas relativamente mais novas, tais como o Teatro Nacional brutalista em Londres por Denys Lasdun, também oferece lições sobre o envolvimento apropriado ao nível do solo. Embora não contenha habitação, ainda combina uma variedade de funções, e projetos recentes de Haworth Tompkins ajudaram o edifício a se tornar uma estrutura que estimula o tráfego de pedestres na área de South Bank, em Londres.
A tipologia de uso misto é difícil de acertar — mas o fato é que ela precisa fazer parte de um ecossistema urbano favorável e coerente.